terça-feira, 8 de dezembro de 2009

CONTOS

Mestre e discípulo enfrentam o rio

Um discípulo tinha tanta fé nos poderes guru Sanjai, que chamou-o certa
vez à beira do rio.
- Mestre, tudo que aprendi com o senhor fez com que minha vida mudasse.
Fui capaz de reatar meu casamento, acertar-me nos negócios de
minha família, e fazer caridade com todos na vizinhança. Tudo que eu
pedi em seu nome, com fé, eu consegui.
Sanjai olhou para o discípulo, e seu coração encheu-se de orgulho.
O discípulo aproximou-se da margem do rio:
- Minha fé em seus ensinamentos e em sua divindade é tanta, que
basta pronunciar seu nome e conseguirei caminhar sobre as águas.
Antes que o mestre pudesse dizer alguma coisa, o discípulo entrou no
rio, gritando:
- Louvado seja Sanjai! Louvado seja Sanjai!
Deu o primeiro passo.
E outro.
E um terceiro. Seu corpo começou a levitar, e o rapaz conseguiu chegar
ao outro lado do rio sem sequer molhar os pés.
Sanjai olhou surpreso para o discípulo, que acenava da margem, com
um sorriso nos lábios.
“ Quer dizer que sou muito mais iluminado do que penso? Eu poderei
ter o mosteiro mais famoso da região! Eu poderei igualar-me aos grandes
santos e gurus!”
Decidido a repetir o feito, aproximou-se da margem, e começou a gritar,
enquanto caminhava rio adentro:
- Louvado seja Sanjai! Louvado seja Sanjai!
Deu o primeiro passo, o segundo, e no terceiro já estava sendo carregado
pela correnteza. Como não sabia nadar, foi preciso que o discípulo
se atirasse na água e o salvasse da morte certa.
Quando os dois chegaram à margem, exaustos, Sanjai ficou em silêncio
por longo tempo. Finalmente, comentou:
- Espero que você entenda com sabedoria o que aconteceu hoje. Tudo
que eu lhe ensinei foram as sagradas escrituras, e a maneira correta de
comportar-se. Entretanto, isso não bastaria, se você não acrescentasse o
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que estava faltando: a fé de que tais ensinamentos poderiam melhorar
sua vida.
“Eu lhe ensinei, porque meus mestres me ensinaram. Mas, enquanto
eu pensava e estudava, você praticava o que tinha aprendido. Obrigado
por me fazer entender que, muitas vezes, o homem não acredita no que
deseja que os outros acreditem.

Texto retirado do livro_ Historias para os pais, filhos e netos de Paulo Coelho

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